No seu artigo publicado a 7 de novembro no jornal Nascer do SOL, Rui Patrício reflete sobre o conceito contemporâneo de “microagressões”, alertando para o risco de o transformar num “macroproblema” social e cultural.
O autor recorda que o termo, com cerca de meio século, surgiu para descrever manifestações subtis de preconceito dirigidas a grupos marginalizados. No entanto, defende que a sua aplicação atual se afastou dessa definição original, passando a abranger praticamente qualquer comportamento que seja percecionado como ofensivo pela “vítima”. «A microagressão vai a caminho de se tornar ecuménica», escreve Rui Patrício, ironizando que, «no império da hipersubjetividade, tudo é definido pela experiência e pela sensação individuais – sinto, logo sou».
O advogado identifica três consequências preocupantes deste fenómeno. A primeira é a vitimização excessiva, que, segundo o autor, pode transformar as pessoas em indivíduos frágeis e incapazes de lidar com o contraditório ou com a adversidade. A segunda é a dificuldade crescente de convivência, pois o medo de ofender e a perceção constante de agressões acabam por gerar tensão social em vez de empatia. «Andamos sempre às turras», observa, num mundo em que até o simples diálogo é substituído pelo gesto digital de “bloquear”.
Por fim, Rui Patrício adverte para um terceiro perigo: a incapacidade de reconhecer e reagir a agressões verdadeiramente graves. «Quando houver ofensas macro, daquelas mesmo a sério, poderemos estar tão anestesiados de microagressões que nem daremos por elas», afirma, comparando esta desatenção ao «problema do Pedro e do Lobo». Nesse cenário, a banalização das pequenas ofensas pode conduzir a uma forma perversa da «banalidade do mal».
O artigo conclui com um apelo à moderação e ao bom senso: as microagressões existem e devem ser combatidas, mas sem exageros que esvaziem o seu significado. «Micro significa pequeno, e, mesmo não sendo bom nem bonito, não se deve fazer do micro mais do que ele é», escreve o autor, defendendo a necessidade de recuperar objetividade e proporcionalidade na vida pública e no discurso social.
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